O
governo pôs em marcha uma operação para tentar transformar o mar de lama que se
espalha por vários setores da administração em virtude presidencial. O que é
para ser pura obrigação passou a ser alardeado como qualidade rara. Tratar com
lisura o bem público e punir desmandos é o mínimo que se pode esperar de um
governante.
A
“faxina” que a presidente da República promete levar a fundo na área dos
Transportes veio para tentar consertar os malfeitos que grassam por lá nos
últimos anos, sempre sob os olhares mansos da então ministra-chefe da Casa
Civil e “mãe do PAC”. A mesma Dilma Rousseff que agora promete prender e
arrebentar viu a caravana da multiplicação dos contratos passar, sem ladrar.
A
estratégia de desvencilhar-se das falcatruas pretéritas e presentes começou com
as demissões em série de envolvidos em escândalos denunciados pela imprensa e,
na semana passada, incorporou a abertura do gabinete presidencial à imprensa –
num gesto que não ocorria desde abril, data da única entrevista que a
presidente concedera a jornais impressos até agora.
As
entrevistas tinham um público claro: a classe média informada, que cada vez
mais desaprova a forma como o governo vem agindo diante do noticiário negativo.
Em uma das conversas, Dilma se confessou “noveleira”, mostrou-se interessada na
música brasileira e falou mais um monte de amenidades sem importância. Abriu
seu coração.
Em
outras entrevistas, mais sérias, ela anunciou, estrategicamente, que “sairão
todos” os envolvidos em desvios e malversações no Ministério dos Transportes,
no Dnit e na Valec, a estatal das ferrovias. Foi uma forma de tentar demonstrar
que a situação nesses órgãos atolados em irregularidades está sob controle de
sua mão de ferro. Seria ótimo se fosse verdadeiro.
Os
inúmeros escândalos que a presidente enfrenta não podem ser resolvidos apenas
no gogó ou mesmo por mera substituição de pessoas. O buraco é bem mais embaixo:
há tempos, essas máquinas do Estado foram carcomidas pela corrupção, numa
simbiose de interesses que o PT não apenas permitiu como incentivou.
O
Dnit, por exemplo, funciona de maneira absolutamente caótica, escancarou O
Globo em sua edição de domingo. O órgão foi definido como “uma engrenagem
azeitada para impedir o controle e engavetar toda e qualquer proposta
moralizadora”. Planos de gestão e códigos de ética, com metas e controles
rígidos elaborados pelos funcionários, foram zelosamente esquecidos num canto
de armário pelo diretor-geral Luiz Antonio Pagot.
Há
mais de 150 sistemas de informações diferentes na sede e nas 23
superintendências regionais do Dnit, o que impede qualquer tipo de comunicação
racional entre sua gigantesca estrutura. As diretorias não conversam; os
setores de projetos e licitações primam pelo desentrosamento. Como resultado,
66% dos projetos elaborados entre 2003 e 2008 tiveram como destino o arquivo
morto.
Projetos
malfeitos contratados junto a consultores “independentes” desembocam,
naturalmente, em aditivos contratuais bilionários abocanhados por empreiteiras.
Tudo muito conveniente, exceto para o contribuinte, que arca com a farra.
O
Dnit trabalha, ainda, sem planejamento integrado que vise o país como um todo.
Obras são autorizadas ou esquecidas ao sabor de conveniências políticas. Também
no domingo, O Estado de S.Paulo informou que, das 23 superintendências do
órgão, 15 apresentam problemas de corrupção, superfaturamento, fraude de
licitações e tráfico de influência. Tudo dominado pelos apadrinhados do Partido
da República de mãos dadas com os operadores do PT.
Nas
entrevistas à imprensa no fim da semana passada, Dilma prometeu dar um jeito
neste oceano de irregularidades. Deveria, antes de mais nada, explicar como, no
papel de “mãe do PAC”, deixou seus pupilos fazerem tanta lambança. Será preciso
mais que simples palavras e estratégias pueris de comunicação para convencer a
população. Se a sujeira era tanta, por que ela ajudou a varrê-la para debaixo
do tapete?
Fonte: https://www.facebook.com/home.php#!/groups/163536087049433?ap=1
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