Num artigo contundente
publicado no jornal mexicano La
Jornada , David Brooks apresenta a face cruel dos EUA pouco
difundida pela mídia colonizada. Mostra que a pobreza extrema cresce em ritmo
acelerado no império. Já as poderosas corporações batem recordes de lucros. No
capitalismo, a crise mata de fome o trabalhador e engorda ainda mais os
tubarões. “Aqui milhões padecem de fome. Não estamos falando do Haiti, nem de
países africanos, nem asiáticos, nem das ‘favelas’ sul-americanas, e sim do
extraordinário fato de que no país mais rico do mundo, milhões sofrem do que se
chama insegurança alimentar, o que o cristianismo traduz como: não saber de
onde virá a próxima comida”, afirma, indignado, David Brooks logo na abertura
do seu artigo.
16 milhões de menores na miséria
16 milhões de menores na miséria
“Nos EUA é permitido – sem transformar em escândalo nacional – que as crianças não tenham o suficiente para comer. O programa nacional de televisão da CBS News, ‘60 minutos’, mostrou recentemente as faces e as histórias de famílias de sem-teto, cujos filhos falavam o que sentem quando não comem o suficiente. Mais de 16 milhões de menores de idade vivem na pobreza – dois milhões mais que antes da crise econômica que explodiu em
Milhares alojados em motéis
Parte da reportagem da CBS foi feita na mesma zona conhecida como o lugar mais feliz do mundo – nos condados em volta da Disney World, em Orlando, Flórida. A CBS detectou ali 67 motéis que alojam mais de 500 crianças sem-teto. Em volta das escolas do condado de Seminole, mil estudantes perderam recentemente suas casas. “O governo aloja milhares de famílias de sem-teto em motéis por todo o país durante um período”. Segundo recente estudo da Feeding, a maior organização do país dedicada à assistência das famílias carentes, mais de um a cada seis estadunidenses (16,6% da população) sofreu de insegurança alimentar em algum momento de
“A fome está por todas as partes”
“Até na capital do país mais poderoso do mundo há cada vez mais fome. Na zona metropolitana de Washington, mais de 400 mil residentes sofreram períodos de fome durante a recessão”, relata Brooks. Outras partes do país, em zonas ricas ou marginalizadas, também registraram cifras crescentes de fome, segundo recente relatório da Feeding. “A maioria ficaria surpresa ao saber das dimensões da fome em suas comunidades. As pessoas tendem a pensar que a fome ocorre em algum outro lugar, mas não no seu quintal. Mas o informe mostra que a fome está por todas as partes de nossa nação agora mesmo”, comentou Vicki Escarra, diretora da Feeding América, ao jornal Washington Post.
Obama ainda corta gastos sociais
Diante da gravidade da situação, qual é a resposta do governo? Barack Obama propõe reduzir a assistência alimentar aos necessitados, promover mais cortes no gasto social e reduzir os impostos dos milionários. Para Brooks, esta conduta, que nega os compromissos de campanha do “democrata”, tem elevado o tom das críticas ao seu governo. Mark Bittman, crítico de gastronomia do jornal New York Time, anunciou que se somaria ao jejum de uma semana com quatro mil pessoas por todo o país, com o propósito de chamar a atenção da opinião pública sobre as propostas de redução drástica dos programas de assistência aos pobres. “Os cortes para supostamente reduzir o déficit farão com que mais pessoas morram de fome e vivam miseravelmente”, explicou.
“A fome não é prioridade nos EUA”
A revolta aumenta quando se observa a opulência dos ricaços e o aumento dos lucros das corporações empresariais em plena crise. Em 2010, os lucros empresariais cresceram a taxas mais aceleradas desde 1950, enquanto houve um recorde no número de pessoas que dependem da assistência federal para comer. Como já apontou o cineasta Michel Moore, os 400 estadunidenses mais ricos têm mais riqueza que a metade dos lares do país, enquanto 45% dos estadunidenses gastam um terço de sua renda em alimentos e uma a cada quatro crianças dorme com fome no país. O aumento dos protestos nos EUA parece, no entanto, não incomodar a elite e seu governo de plantão. “A fome não está entre as prioridades das cúpulas políticas e econômicas deste país. Aparentemente, a segurança alimentar não é assunto considerado de segurança nacional”, conclui David Brooks.
Altamiro Borges