Como uma pessoa se
torna preconceituosa?
Todas
as crianças nascem “zeradas” em termos de pensamento ou comportamento de
segregação, mas, com o tempo, dependendo de influências ou vivências, podem
acumular um volume de lógicas e raciocínios que redundam no não reconhecimento
do outro, quando este outro é de raça ou cor diferente da sua.
Pais,
parentes e professores, pelo papel que têm na formação da criança, são
responsáveis para que um cidadão aprenda a respeitar, desde cedo, a diversidade
étnico-racial.
Mesmo
a prática do racismo sendo crime inafiançável e imprescritível, segundo a
Constituição de 1988 (art. 5º – inc. XLII), é comum assistirmos falas e
declarações de conteúdo racista como algo “comum” em tom de brincadeira, ou de
piadas. Isso tem se reproduzido de geração a geração e passado de pai para
filho, como se fosse um costume de família.
Dessa
forma “natural”, em tom de brincadeira, poucos assumem o preconceito, mas os
efeitos na formação de uma criança são concretos: ela passa a não compreender a
riqueza da diferença e a igualdade dos direitos entre as pessoas. São impactos
visíveis na vida de crianças e adolescentes negros, indígenas e brancas.
O
Unicef, como agência da ONU que tem a missão de defender direitos de crianças e
adolescentes, lançou, dia 29 de novembro, campanha em nível nacional para
alertar sobre o impacto do racismo na vida de milhões de crianças e
adolescentes e contribuir para promover iniciativas que reduzam as
disparidades.
Os
números falam por si. No Brasil vivem 31 milhões de crianças negras e 160 mil
indígenas, ou seja, 54,5% das crianças são negras ou indígenas. Um dado que
assusta e que revela as disparidades: 65% das crianças pobres são negras.
Quando
se analisam números da mortalidade infantil, de crianças fora da escola ou de
mortes de adolescentes negros, fica ainda mais explícita a necessidade de
alertar a sociedade e mobilizar para que sejam asseguradas a equidade e a
igualdade étnico-racial desde a infância.
A
campanha sobre o racismo na infância foi desenvolvida com o objetivo de
contribuir para rever o imaginário, principalmente quebrar a comodidade da
falsa afirmação de que não existe racismo no Brasil; ajudar a promover o
respeito entre as pessoas e práticas que combatam a discriminação, colaborando
para a afirmação das identidades de crianças indígenas, negras e brancas.
Entre
os resultados esperados, está o aumento do reconhecimento sobre os efeitos do
racismo na vida de crianças e adolescentes e da valorização de direitos,
identidades e da diversidade cultural.
Em
nível de políticas públicas, o que se espera é a formulação e implementação de
ações voltadas para a redução das disparidades na educação, saúde e proteção
dos direitos.
O
conceito de equidade, ou seja, a disposição para que o direito do outro seja
reconhecido de forma imparcial e igualitária, é o que move a campanha.
E é o
que se espera que seja percebido como valor a ser cultivado na educação de
crianças e adolescentes, para que gerações de crianças e adolescentes negros e
indígenas, que passaram séculos à margem de políticas públicas, sejam
efetivamente reconhecidos na categoria de sujeitos de direitos.
No
Brasil vivem 31 milhões de crianças negras e 160 mil indígenas, ou seja, 54,5%
da população infantil.
Por Ana
Márcia Diógenes
Um comentário:
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