A mobilização social pela internet tem revitalizado o papel do
militante político nas campanhas.
Antes em camisetas, broches e bonés, os logotipos dos partidos
agora ilustram perfis em redes sociais. Os panfletos viraram e-mails. As
discussões acaloradas nas ruas e nos bares são feitas, silenciosamente, em 140
caracteres. Uma das principais novidades desta eleição é a mobilização social
pela internet; O movimento tem o mérito de revitalizar o papel do militante
político nas campanhas.
“A web possibilita aos militantes atuarem de forma efetiva com
pouco investimento”, explica o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do
Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação (Cepac). “Com apenas um clique, é
possível atingir milhares de eleitores. Não é mais necessário gastar tempo nem
dinheiro para ir a comícios ou reuniões”. Para Figueiredo, o fator
custo-benefício tem contribuído para aumentar o número de militantes.
Na eleição deste ano, todos os partidos - inclusive os nanicos -
adotaram estratégias virtuais. Elas incluem a divulgação on-line das propostas
e das agendas dos candidatos, a distribuição de material de campanha, o
cadastramento dos eleitores em sites e a participação em redes sociais como o
Facebook, o Orkut e o Twitter. Além disso, foram publicadas cartilhas com
conselhos para a mobilização virtual de eleitores. O PSDB, por exemplo,
estimula os simpatizantes de José Serra a enviar e-mails em larga
escala sobre a campanha. Os coordenadores da campanha tucana ressaltam que são
bem-vindas vídeos postados no Youtube.
Os especialistas divergem sobre a eficácia dessas estratégias
para conquistar votos, principalmente porque o alcance da internet no Brasil
ainda é pequeno. Cerca de 30% da população tem acesso à rede, enquanto nos
países ricos a taxa média é de 64%, segundo dados da União Internacional de
Telecomunicações. “O fato é que o uso do marketing viral na web é fundamental
para incentivar a mobilização pessoal”, acredita Ricardo Caldas, cientista
político da Universidade de Brasília (UnB). “Nesse ponto, a tática funciona”.
Figueiredo acrescenta que a webmilitância é um complemento do trabalho boca a
boca e não substitui a militância tradicional - que distribui panfletos,
carrega placas e participa de comícios.
O PV foi uma das primeiras legendas a entrar nas redes sociais,
em 2007, com a intenção de mobilizar mais de cem mil internautas. "O
número de militantes que vão para as ruas é bem menor, mesmo assim, é preciso
ir, não tem jeito”, destaca Fabiano Carnevale, Secretário Nacional de
Comunicação do PV. “O objetivo é criar um fluxo constante entre as ruas e a
rede”.
José Arcanjo Araújo pertence à velha geração de militantes. Aos
66 anos, está no PT desde a criação do partido, em 1980. Metalúrgico
aposentado, Zé Preto, como é conhecido, acredita que a militância atual é menos
engajada com as lutas sociais. “Os jovens não fazem mais como nós fazíamos”,
lembra, com um tom de voz de desapontamento. “A gente saía às 5h da manhã e só
voltava às 2h da madrugada. Íamos de porta em porta conversar com os moradores
e conhecer as dificuldades e as necessidades de cada um. Hoje são poucos os que
vão à luta”.
Para conhecer as atividades e o discurso dos webmilitantes, VEJA
conversou com filiados dos partidos dos três principais candidatos à
Presidência. Gustavo Anitelli, do PT, Oziel de Souza, do PSDB, e Edercino
Tolentino, do PV. Todos têm menos de 30 anos e costumam passar horas discutindo
política ou escrevendo sobre a legenda na internet. A escolha do partido tem
motivações diferentes para cada um, mas em um aspecto o discurso dos três se
assemelha: a crença de que o trabalho que fazem é fundamental para a construção
de um Brasil melhor, seja ele petista, tucano ou verde.
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