O final do século XX e
este início do XXI têm como marca maior a grande crise econômica do sistema
capitalista em âmbito global. Esta crise que teve um grande surto em 2008 volta
agora com força maior, provocando uma enorme avalanche financeira no coração do
capitalismo: A Europa e os EUA.
Desde a década de 1929,
com o Crack da Bolsa de Nova York,
que abalou o mundo, inclusive o Brasil, que o capital vem mostrando sua
sequência histórica de crises, desestabilizando mercados, quebrando empresas,
desestruturando nações, falindo indústrias e industriais. Um aspecto comum que
caracterizou todas as crises financeiras do capital em tempos pretéritos foi suas
fases de crises cíclicas. Ou seja, elas vinham à tona, de tempos em tempos,
mas, o capital conseguia elaborar e reelaborar mecanismos internos para sua superação,
conseguindo, dessa forma, melhorar a eficiência de suas estruturas internas.
Assim, ele saía das crises cíclicas com as forças renovadas, criando novos
mecanismos reguladores de suas estruturas internas, o que lhe possibilitava
maior força para se expandir e se reproduzir e, com isso, aumentar com eficácia
sua mais valia (lucro). Mas, um dado real para o qual devemos nos atentar é que
o capital se reinventava, superava suas crises, em grande parte, em detrimento
de necessidades primárias ou mesmo secundárias da população, ou seja, do
mercado consumidor. Isto significa dizer que o capital superava suas crises em
função de necessidades reais da população mundial, visando, em última
instância, a melhorar as condições e o padrão de vida dos povos, ou, pelo menos
de uma parcela deles.
O que diferencia
substancialmente as crises econômicas da atualidade das que ocorreram em tempos
passados, é a incapacidade de o capital se reinventar. Isto é, a crise
econômica dos tempos presentes é fruto do próprio desgaste dos mecanismos
internos do capital, de suas estruturas internas. É o que o pensador e sociólogo
húngaro Ístvan Mészáros define como “Crise estrutural do capital”. Na verdade,
a crise estrutural do capital se liga diretamente ao deslocamento dos novos
objetivos da produção material que rege a economia dos tempos presentes. O
capital já deixou de gerar produtos (mercadorias) que estejam diretamente
ligados às necessidades e desejos reais das populações (mercados consumidores).
Hoje, ao invés de se
criar produtos para atender às necessidades humanas, primeiro se “inventam”
novas mercadorias e produtos e depois se criam artificialmente os desejos e as
necessidades. Então, se criam produtos supérfluos e descartáveis para o
atendimento de desejos e necessidades ilusórias, artificiais e fictícias. Estes
aspectos são frutos da denominada “Globalização Econômica” ou “Globalização
Neoliberal ou Perversa” como diria o grande e saudoso geógrafo, Prof. Milton
Santos. Diante da incapacidade do capital de gerar sua produção voltada para as
necessidades da humanidade é que surge com todo o vigor a crise estrutural ou crise
dos mecanismos internos do sistema capitalista. Ou seja, o capital não é mais
capaz de se reinventar para a superação de suas crises econômicas sucessivas.
Por isso, vemos a grande crise global
atingir, em cheio, o coração dos gigantes capitalistas: Europa e EUA (2008) e
agora em 2010/2011 uma crise mais generalizada que atingiu novamente os EUA e
depois a Europa (Grécia, Irlanda, Itália, França, Espanha, Inglaterra). Diante
disso, a crise econômica com certeza percorrerá todo o planeta, todas as regiões,
todos os países. O que se coloca diante da humanidade é o grande desafio de se
criar novos modelos de economia e de sociedade. Só assim, a humanidade será
capaz de superar a gigantesca crise estrutural do capital. Caso contrário, a
humanidade sucumbirá de uma vez por todas, mergulhando definitivamente na
barbárie, ou seja, num modelo de sociedade totalmente antropofágica e autofágica,
cujos sintomas são perfeitamente visíveis num futuro totalmente incerto e de
horizonte curtíssimo, onde o homem venha se transformar, definitivamente, em
mercadoria última.
* Escritor. Geógrafo, Mestre e doutorando pela
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador das temáticas “Alterações
Climáticas” e “Impactos da ação antrópica sobre os ecossistemas”. machado04fonseca@gmail.com
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