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01 julho 2010

O Desenvolvimento no Mundo Contemporâneo

Há duas maneiras de olhar para o desenvolvimento no mundo contemporâneo. Uma, profundamente influenciada pelo crescimento da economia e pelos valores que lhe estão subjacentes, se refere ao desenvolvimento essencialmente como uma expansão rápida e sustentada do produto nacional (ou interno) bruto per capita, talvez qualificada por alguma exigência de que os frutos dessa expansão alcancem todas as camadas da comunidade. Vou chamá-la de “visão de desenvolvimento com opulência”. Nessa abordagem, os valores e a cultura não têm lugar fundamental.

Uma segunda visão, que contrasta com a anterior, vê o desenvolvimento como um processo que aumenta a liberdade dos envolvidos para perseguir quaisquer objetivos que valorizem. Nessa, que chamarei de “visão de desenvolvimento com liberdade efetiva”, a importância da opulência econômica está submetida ao critério de valores das pessoas envolvidas, e é, portanto, culturalmente condicionada.

Em consonância com essa visão do desenvolvimento, a expansão da capacidade humana pode ser descrita como a característica central do desenvolvimento. O conceito de “capacidade” de uma pessoa pode ser encontrado em Aristóteles, para quem a vida de um indivíduo podia ser vista como uma sequência de coisas que ele faz, ou estados de ser que ele alcança, e que constituem uma coleção de “funcionamentos”. A “capacidade” refere-se às combinações alternativas de funcionamentos a partir das quais uma pessoa pode escolher. Assim, a noção de capacidade é essencialmente um regime de liberdade – o leque de opções que uma pessoa tem para decidir que tipo de vida levar.

A pobreza, nessa visão, não reside apenas no estado empobrecido em que uma pessoa pode realmente viver, mas também na falta de oportunidade real – imposta por constrangimentos sociais, bem como circunstâncias pessoais – para escolher outros tipos de vida. Mesmo baixos rendimentos, bens escassos e outros aspectos do que em média é visto como pobreza econômica são relevantes em última instância, por conta do seu papel na redução de capacidades (isto é, em restringir severamente as oportunidades das pessoas para levar vidas valorizadas e valiosas).

Por Amartya Sen - Revista Planeta nº 452

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