Transcrevo
aqui o que o Blog do Aluizio Amorim transcreveu do editorial do jornal O Estado
de São Paulo que está em sua edição desta terça-feira. O título do post é o
mesmo do original. Merece ser lido e divulgado.
Quanto mais se acumulam as evidências de que o PT é o mentor do crime continuado da devassa na Receita Federal, de dados sigilosos de aliados e familiares do candidato presidencial do PSDB, José Serra, tanto mais o presidente Lula apela para o escárnio. É assim, desenvolto diante da exposição das novas baixezas de sua gente, que ele procura desqualificar as denúncias de que as violações tinham a única serventia de reunir material que pudesse ser utilizado contra os adversários da candidata governista, Dilma Rousseff.
Do mensalão para cá, essa atitude só se acentuou. No escândalo
da compra de votos no Congresso Nacional, em 2005, ele ficou batendo na tecla
de que não sabia de nada e que, de mais a mais, o que a companheirada tinha
aprontado - diluído na versão de que tudo se resumia a um caso de montagem de
caixa 2 - era o que se fazia comumente na política brasileira. Depois, propagou
e mandou propagar a confortável teoria de que as acusações eram parte de uma
"conspiração das elites" para apeá-lo do poder. Mas não chegou a
zombar acintosamente das revelações que iriam ficar gravadas na história de seu
partido.
Já no ano seguinte, quando a polícia detonou a tentativa de um
grupo de petistas, entre eles o churrasqueiro preferido de Lula, de comprar um
falso dossiê contra o mesmo José Serra, então candidato a governador de São
Paulo, o presidente incorporou ao léxico político nacional o termo
"aloprados" com que, para mascarar a gravidade do episódio, se
referiu aos participantes da torpeza. Agora, enquanto escondia a sua escolhida
- acusada pelo tucano como responsável, em última instância, pela fabricação de
novo dossiê com os documentos subtraídos do Fisco -, o presidente se abandonou
ao cinismo.
No fim da semana, em um comício em Guarulhos, na Grande São Paulo,
a que Dilma não compareceu, ele acusou Serra de transformar a família em vítima. Ou seja, o que
vitimou a filha do candidato não foi a comprovada captura de suas declarações
de renda por um personagem do submundo - cuja filiação ao PT só não se consumou
por um erro de grafia de seu nome -, mas o "baixo nível" da campanha
do pai, que tratou do escândalo no horário de propaganda eleitoral. E ele o
teria feito porque "o bicho está em uma raiva só" diante dos
resultados desfavoráveis das pesquisas eleitorais. "É próprio de quem não
sabe nadar e se debate até morrer afogado", desdenhou.
O auge da avacalhação - para usar uma palavra decerto ao gosto
do palanqueiro Lula - foi ele perguntar retoricamente: "Cadê esse tal de
sigilo que não apareceu até agora? Cadê os vazamentos?" Se é da filha de
Serra que ele falava, o sigilo vazou para os diversos blogs lulistas que
publicaram informações a seu respeito que só poderiam ter sido obtidas a partir
do acesso ilícito aos seus dados fiscais. E o presidente sabe disso desde
janeiro, quando o ainda governador Serra o alertou para a "armação"
contra seus familiares na internet. Confrontado com o fato, Lula disse, sem
ruborizar-se, ter coisas mais sérias para cuidar do que das "dores de
cotovelo do Serra".
Se, no comício, a sua pergunta farsesca tratava das outras
pessoas ligadas ao candidato, como, em especial, o vice-presidente do PSDB,
Eduardo Jorge Caldas Pereira, o sigilo vazou para membros do chamado
"grupo de inteligência" da candidatura Dilma. No caso de Eduardo Jorge,
aliás, a invasão não se limitou à delegacia da Receita em Mauá, no ABC
paulista, a primeira cena identificada do crime. Na última quinta-feira, o
Estado revelou que um analista tributário lotado na cidade mineira de Formiga,
Gilberto Souza Amarante, acessou dez vezes em um mesmo dia os dados cadastrais
do tucano. O funcionário é petista de carteirinha desde 2001.
Ninguém mais do que Lula, com o seu imitigado deboche, há de ter
contribuído tanto para a "maria-mole moral" em que o País atolou, na
apropriada expressão do jurista Carlos Ari Sundfeld, em entrevista no Estado de
domingo. Nem a bonança econômica nem os avanços sociais podem obscurecer o
perverso legado do lulismo. Por minar os fundamentos das instituições
democráticas, essa é hoje a mais desafiadora questão política nacional.
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